Sem abelhas mamangavas, aprenda polinização manual do maracujá com pincel ou dedos.
(Imagem: de Freepik)
Com a queda alarmante das populações de abelhas mamangavas, responsáveis pela polinização natural do maracujá, produtores rurais do Brasil buscam alternativas urgentes para não perder a safra. A polinização manual, feita com pincel, cotonete ou até com os dedos, surge como solução prática e comprovada, capaz de aumentar a produtividade em até 70% e gerar frutos muito maiores.
A técnica é recomendada pela Embrapa e já transforma pomares inteiros, especialmente em regiões como Mato Grosso do Sul, onde o cultivo do maracujá amarelo cresce rapidamente. Sem polinizadores, as flores caem sem formar frutos; com intervenção humana, o vingamento pode saltar de 20–30% para até 50–70%.
Por que as abelhas estão sumindo dos pomares?
As mamangavas dos gêneros Xylocopa e Bombus são as principais polinizadoras do maracujá. Seu corpo robusto é ideal para as flores hermafroditas da Passiflora edulis, permitindo a transferência do pólen pegajoso das anteras para o estigma.
No entanto, fatores como uso excessivo de agrotóxicos, desmatamento e a retirada de mourões secos, locais onde essas abelhas se abrigam, têm provocado uma queda drástica das populações. Estudos da Embrapa Cerrados indicam que, sem elas, apenas cerca de 25% das flores se transformam em frutos viáveis.
Como o maracujá é uma planta autoincompatível, ele depende obrigatoriamente de polinização cruzada. Em áreas de monocultura intensiva, a polinização manual deixa de ser alternativa e passa a ser regra.
Passo a passo: como fazer a polinização manual
A técnica é simples, barata e pode ser aplicada tanto em pomares comerciais quanto em quintais. O ideal é realizar a polinização entre 12h30 e 18h, período em que as flores ficam abertas por poucas horas.
- Coleta do pólen: toque o pincel, cotonete ou dedo nas anteras (partes amarelas) de uma flor masculina até ficar coberto de pólen.
- Transferência: passe suavemente o pólen nos três lóbulos curvos do estigma de outra flor.
- Polinização cruzada: alterne plantas e flores para garantir diversidade genética.
- Frequência: repita o processo duas a três vezes por semana durante a floração.
- Higienização: limpe o instrumento entre usos para evitar contaminação.
Um operador treinado consegue polinizar cerca de 2.000 flores por hora. O resultado são frutos maiores, com mais sementes e polpa mais suculenta, chegando a um aumento médio de 41% na produtividade.
Benefícios diretos para a produção
A polinização manual não apenas compensa a ausência das abelhas, como em muitos casos supera a polinização natural. Frutos bem polinizados apresentam melhor formato, maior peso e maior resistência a pragas.
- Aumento médio de até 9 toneladas por hectare.
- Redução do aborto floral de 75% para cerca de 30%.
- Valorização comercial por frutos maiores e mais uniformes.
Produtores de estados como Rondônia e São Paulo relatam ganhos expressivos e envio de maracujás “gigantes” para grandes centros urbanos. A irrigação adequada durante o florescimento potencializa ainda mais os resultados.
Desafios e dicas de especialistas
Polinizar fora do horário correto ou usar a mesma flor para coleta e deposição do pólen pode gerar frutos deformados. Também é essencial manter ao menos dois pés de maracujá próximos para garantir cruzamento eficiente.
Com mudanças climáticas e períodos de seca afetando ainda mais os polinizadores em 2025, a polinização manual se tornou uma solução emergencial. Em áreas de até 2 hectares, o custo anual gira em torno de R$ 30 mil, valor facilmente compensado por uma safra mais abundante.
Especialistas recomendam combinar a técnica com preservação de áreas nativas e o plantio de espécies atrativas para mamangavas, garantindo equilíbrio a longo prazo.
Uma solução simples para um problema urgente
Enquanto o Brasil enfrenta desafios ambientais e produtivos, a polinização manual mostra que mãos humanas podem salvar a safra. Quem adota a técnica colhe não apenas maracujás maiores, mas também mais segurança alimentar e renda estável em tempos de incerteza.